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Guerra, Carnaval e Aventura – parte 2

Papai nos ensinou e depois  ao  aprendemos a ler e a ouvir Deus por meio da Palavra, entendemos claramente, pelo Espírito Santo,  esses ensinos:

“Há caminho que parece inofensivo, mas todo cuidado é pouco: leva direto para a morte.” – Pv. 16. 25
“Há um estilo de vida que parece inofensivo; preste atenção, pois conduz à morte.
Por trás do sorriso e da diversão, há muita tristeza e sofrimento.”
“O sábio vigia seus passos e evita o mal, mas o insensato é teimoso e negligente.” – Pv. 14. 12, 13, 16     Versão A Mensagem de Eugene H. Peterson

Papai foi aventurar-se no carnaval com a devida autorização de vovô e sob a responsabilidade do irmão mais velho.

O  trem
Ele e seus irmãos mais velhos saíram de casa às 17h30min e pegariam o trem na Estação de Vigário Geral às 18h30min. O trem vinha de Duque de Caxias já lotado. Papai nunca tinha andando no trem tão cheio daquele jeito, ele, às vezes, levado por sua mãe, ia à Estação apenas para ver as pessoas embarcarem, era uma diversão. Mas agora lá estava ele no meio daquela gente toda. A “Cia. De Trem da Leopoldina Raiwal”, na época do carnaval, usava uns vagões onde os bancos só eram nas laterais e o meio ficava vazio,  justamente para as pessoas fazerem o “cordão” (um colocava a mão no ombro do outro e rodeavam dentro do vagão).  Muitos sentavam-se  nas janelas com os pés nos bancos. E se, alguém sentava no banco o “cordão” vinha e agarrava a pessoa pelo braço forçando-a   levantar-se e seguir na folia. Papai ficou penalizado porque muitos que saíam do trabalho e adentravam os vagões para voltarem às suas casas, já cansados da lida, eram obrigados a participarem, querendo ou não.  Ele presenciou muitas brigas por causa disso.

O Lança Perfume e os Confetes
Muitos vinham com o Lança Perfume. Sim, lançavam mesmo um jato, especialmente nos olhos. Quem o recebia acabava com os olhos ardendo e até chorava mesmo. O  seu irmão mais velho o preveniu. Mas não valeu de nada.  De repente papai sentiu no olho o que era o Lança Perfume. Ele chorou muito e bem alto. Seu tio que estava no outro lado do trem veio gritando e xingando. Sua irmã Lelê  veio em seu socorro, dizia ela: “Não chora! Abra bem os olhos para entrar ar”...assim, ele foi apresentado ao Lança Perfume, que hoje é proibido.
Papai dizia que as pessoas abriam a boca para cantar e lá vinha uma mãozada de confete goela abaixo. Ele ficou assustado com isso, também.

De Vigário Geral ao terminal Barão de Mauá, demorava uns cinquenta minutos. Ao chegarem ao terminal ainda teriam de pegar o Bonde para chegarem à Praça Onze, onde se realizavam  os desfiles. . Ufa!...

O Bonde
Foto de EM
Ao aproximar-se da Praça Onze o bonde começou a andar bem devagar, quase parando, era muita gente. A turma de Vigário encheu um.  Uma fila de bonde se fazia. Povo cantando e  pulando em frente ao Bonde.  Por andar lentamente,  muitos foliões desciam para irem a algum bar,  bebiam alguma coisa,  voltavam correndo e entravam no bonde, em movimento.  Papai viu aquilo e quis fazer também. Papai cantando desde às 18h00min, e agora mais de 20h00min, ele estava com sede Seguindo o exemplo do povo papai desceu,  foi a um bar, entrou numa fila, aguardou um tempo e matou sua sede. Na hora em que ele desceu, o trânsito aliviou e os bondes desenvolveram a velocidade. Ao retornar não achou mais o bonde onde estava sua família e amigos.  Ele correu atrás de uns três bondes. Nada.  Ele chegou até à Praça dos Marinheiros (um lugar antes da Praça Onze). Perdido! Abriu a boca a chorar no meio do povaréu. Ele nunca havia ido à cidade. Tudo estranho. Então, ele se lembrou de seu pai e viu que seus pais tinham razão em não quererem que ele fosse aos desfile.  Sua cabeça começou a ficar torturada:  era bloco cantando: Tiroleza, Quebra-quebra, Cabirola, Jardineira. Não conhecia ninguém. O jeito era chorar. Chorou de gritar. E o nome que ele mais gritava era o de seu irmão mais velho.

A ajuda
Enquanto papai gritava e chorava desesperadamente, ele sentiu uma mão no seu ombro e junto um fedor de bebida. O homem que estava tão bêbado falava enrolado e papai não entendia nada. O homem segurava um copo de cerveja numa  mão e na outra uma garrafa e gesticulando entornava a bebida em cima de papai. Uma mulher  o acompanhava , vestida de baiana,  deu um empurrão no homem, dizendo: “Deixa eu falar com o menino!”  E, virando-se para o papai disse: “Fica quieto, senão a polícia te leva para o juizado de menor e você ficará lá até encontrar o seu irmão. Você conhece esse local?”  - Respondeu ele: “Eu nunca saí de Vigário Geral! É a primeira vez que venho ver os desfiles.” Aí o homem falou : “Xiiiiiii,  é longe pra burro! Só de trem cinquenta minutos pra lá, fora o horário de trem que a gente não sabe. A volta  mais cinquenta minutos. Nós perderemos  o final do desfile, começo e tudo do desfile.”  A mulher  disse: “Eu perco o desfile mais levo ele. Você me espera na esquina da rua Pinto de Azevedo, fica por ali que nós se encontra, tá?”  O homem tonto, respondeu: “Não, você não pode leva-lo. Hoje é carnaval e a polícia vai te interrogar , lá na Estação, a respeito do menino e eles não vão acreditar em você, o menino é branco.” – foi , talvez, a primeira vez que papai teve contato com a realidade do racismo, mesmo sem ele entender. 
Papai vendo e ouvindo tudo aquilo, de maneira rápida raciocinou e disse: “Me coloca dentro do trem que passa em Vigário que eu conheço a Estação! “  O homem perguntou: “Você tem dinheiro para comprar  a passagem? “ – Papai respondeu: “Não. O meu irmão é que está com o dinheiro!.”  - O homem falou: “Olha nó vamos esperar um pouco, se não aparecer ninguém que você conheça, nós vamos tentar colocar você no trem, mas não chora mais, tá?”
O desfile começaria às 21h00min.  Às 20h40min, papai foi colocado no trem, em um vagão que não tinha muito movimento. Além de comprarem a passagem  a  mulher fantasiada de baiana deu a ele: um saquinho de amendoim torrado, chocolate, cocada e balas.  Sozinho no trem ele pensava: “E se eu não reconhecer a Estação e ir direto para o Rio?”
O trem corria.  Enquanto  questionava-se,  ele viu surgir um conhecido que veio de outro vagão, que estava com uma forte dor de dente.  Ao ver papai perguntou: “O que tá fazendo aí sozinho, Dunguinha?” (Em Vigário Geral, vovô era conhecido pelo apelido de Dunga e seus filhos papai e o seu irmão mais velho eram chamados de Dunguinha). “Você se perdeu da turma? Tá indo mais cedo pra casa?  E logo afirmou: “Eu estou indo porque estou com uma forte dor de dente. E você, parece que está com os olhos inchados. Chorou ou foi Lança Perfume? Envergonhado, papai disse: “Me acertaram um jato nos dois olhos, fiquei com uma forte dor de cabeça, meu irmão me trouxe até o trem e voltou para o desfile.”

Choro de novo
Às 21h40min, papai entra pelo portão de  casa. Vovô espantado jorrou uma porção de perguntas: “Como? Você aqui à essa hora? Sozinho? Cadê seus irmãos?”  Papai contou toda a sua aventura. Vovô novamente o interroga: “Seus irmãos viram você saltar do trem?”“Não.  Acho que só dois amigos viram que eu estava bebendo água. Fui o terceiro a beber. Eles saíram correndo e quando acabei de beber não vi ninguém deles e nem o bonde.”
Vovô disse: “Então, nesse caso você não viu seu irmão saltar nenhuma vez?”  Papai afirma: “Não, não vi.” E vovô não perdoou: “Você merece apanhar. Plaft...plaft...plaft...  Papai chorou pela segunda vez naquela primeira noite de carnaval em que ele teimou ir assistir o desfile. Vovó veio em seu auxílio ao escutar o choro.  Ela disse: “Ô Dunga, o garoto nem entra em casa você já está batendo?” Ao que vovô respondeu: “Pois ele merece, escuta o que ele fez. Metido a sabido. Agora nem vai sair de dia com o bloco, ficará de castigo os dois dias de carnaval, com sua mãe.
O tal do carnaval se tornou antipático para papai a partir dessa experiência. Durante 08 anos ele não participou. Mesmo com seus 18 anos, ele por vezes, só ia apreciar, meio que de longe. Logo ele estaria no Exército. Seus primos e manos gozavam dele “Nozinho (apelido de papai)  vai virar padre!”. Papai ficava chateado com isso. Mas papai tinha um companheiro, um primo, com o qual ele se dava muito bem e tinham os mesmos gostos. Assim, eles andavam sempre juntos em cinemas, jogos de futebol, e na época de carnaval iam dar um espiadinha, mas não participavam.

Nesse episódio vejo como Deus guardou papai, preservou sua vida colocando pessoas para o ajudarem. O Senhor tinha planos para ele. E que planos! Bem melhores.
Alguns anos mais tarde, quando papai foi alcançado por Jesus Cristo e teve sua vida mudada, ele  viu que o mais importante não são os prazeres passageiros desse mundo e a Bíblia  o ensinou dizendo: “Não amem os costumes do mundo. Não amem os valores do mundo. O amor do mundo sufoca o amor do Pai. Praticamente tudo que acontece no mundo – desejo de seguir o próprio caminho, de querer tudo para si, de parecer importante – não tem nada a ver com o Pai. Tudo isso o afasta do ser humano. O mundo e seus desejos vão passar, mas quem faz o que Deus quer está garantido na eternidade.” – Carta de I João, capítulo 2, versículos 15 a 17 – Na versão Linguagem Contemporânea de A Mensagem – Eugene H. Peterson





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